domingo, 16 de novembro de 2008

Carta (Aberta) ao Zé Campos e Sousa, aos meus amigos e a todos os Nacionalistas

O que diz pátria sem ter vergonha
E faz a guerra pela verdade;
Que ama o futuro, constrói e sonha
Pão e poesia para a Cidade
A esse quero chamar irmão,
Sentir-lhe o ombro junto do meu:
Ir a caminho de um coração
Que foi de todos e se perdeu.

António Manuel Couto Viana

Parece que estamos em “maré” de Epístolas. Às vezes assim é preciso. Às vezes mais que escrever cartas é necessário gritar. É o que eu vou aqui fazer, ou seja, escrevo-te esta carta, Zé Campos e Sousa, gritando.
Como te deves ter apercebido, eu recebi, via um e-mail do nosso amigo Nonas uma tua carta, que intitulaste «CARTA AOS MEUS AMIGOS: No tempo em que se festejam os 120 anos de Pessoa». Logo eu tomei a providência de a reproduzir (disso te dei o devido conhecimento, como tu sabes), colocando a mesma a circular entre os meus amigos e conhecidos. Soube, depois, que outros nossos amigos a colocaram nos seus blog’s, como, por exemplo, foi o caso do Humberto Nuno Oliveira e outros mais.
Dentro das minhas parcas possibilidades (e elas são realmente pobres), foi o esforço que eu pude despender, meu velho. Pudesse eu fazer mais!...
Senti que a tua mensagem, embora não sendo a “MENSAGEM” de Fernando Pessoa (a tal que como menestrel da Pátria queres cantar), tinha que alcançar o maior número possível de gente amiga ou conhecida.
Confesso-te que tive que ler a tua Carta duas vezes. Duas vezes, porque foi com algum custo e uma certa perturbação quando eu a li vez primeira. Ler para crer, como São Tomé?
Aquela “CARTA AOS MEUS AMIGOS”, escrita por um português de lei, por um antigo combatente de Além-Mar em África, por um amigo e camarada como tu, que conheço desde os primeiros anos do 25A74, golpe de Estado militar, pretoriano e corporativo (de tão nefasta memória e resultante de uma acção desalmada, porque feita por gente da tropa[i] sem Alma Lusa), que te viste na imperiosa e estranha contingência, quase dramática, de escrever aos teus amigos, isso para eles gerarem uma espécie de movimento de solidariedade (a tal bola de neve, como dizes na tua carta), com vista a ser editado um teu (NOSSO) CD, no caso vertente, especialmente alusivo aos 120 anos de Pessoa e ao seu poema “MENSAGEM”, representou para todos nós (nacionalistas), assim penso, um grito de alerta e que, inevitavelmente (assim o espero) terá que ter as devidas consequências. Nada pode continuar como dantes. Ou poderá? E não é só a ti que pergunto isso: e
a todos aqueles que se consideram portugueses e nacionalistas que eu questiono tal. Poderão as coisas continuar na mesma? Se calhar vão continuar.
Em certa medida, é uma vergonha (para todos nós!) que tivéssemos que receber uma missiva tua dessa natureza para despertarmos para um combate em prol da tão mal tratada Cultura Portuguesa. Um combate que é URGENTE e necessário fazer. Isso sob pena, caso não sejamos capazes, de capitularmos, uma vez mais (e sempre) perante os nossos inimigos que, obviamente, também são os inimigos de Portugal.
Nós, nacionalistas, temos de encontrar (e rapidamente!) alternativas culturais verdadeiramente nacionais. Isso sob a forma de uma nova Oficina de Teatro (que já tivemos no passado), de uma nova Cooperativa Livreira (que já tivemos no passado), de organizar Saraus Culturais (que já organizamos no passado), de ter gente a escrever e a declamar poesia; que saiba fazer um “jornal falado” (que já fizemos no passado) e outras coisas novas, que poderemos fazer no presente e no futuro. Se muitas dessas coisas já fizemos (como nacionalistas revolucionários) no passado, porque razão não o fazemos agora? Será porque já não somos a mesma “raça” de portugueses e de nacionalistas, como no passado? Ou será porque muitos “nacionalistas” andam hoje mais interessados em desenhar cruzes gamadas nas paredes e a escrever o “portuguesíssimo” termo Sieg Heil? Meditemos, nisto tudo, nem que seja por um breve momento.
Olha, Zé Campos e Sousa[ii], na tua “CARTA AOS MEUS AMIGOS”, devo aqui afirmar, que tu foste, no teu apelo, excessivamente modesto e humilde (como só as Almas Fortes são realmente capazes em o ser). Tu tinhas o direito de exigir muito mais… Mas, pensando muito melhor, não és tu que tens que ser ajudado. Nós é que, na verdade, é que temos que ser acudidos por ti. Obrigado, Zé Campos e Sousa, por teres sido capaz de teres feito isso por nós – TODOS.
Obrigado por nos teres feito ver (espero que definitivamente) que a alguma indiferença (talvez antes uma distracção, melhor dizendo) que todos, no fundo, demonstramos possuir perante o teu sacrifício e talento em cantar a Pátria (lembraste de cantares, com letra do nosso amigo Diogo Pacheco de Amorim, o “tragam rosas brancas, para a Pátria morta…”?), nos pode vir a custar muito caro. Muitíssimo mais caro do que o custo de uma qualquer produção de um mero CD que, embora cantado por ti, para que o possamos ouvir no próximo Natal e em todos os outros dias que o queiramos, deve ser, também, cantado pelas nossas vozes. Desafinadas ou não, isso pouco importa.
Obrigado, Zé Campos e Sousa, pela tua pequena/grande lição que nos deste a todos nós.

António José dos Santos Silva
Porto, Domingo, 2 de Novembro de 2008
Notas:

[i] Parece que os nossos actuais “magalas”, nos dias que hoje correm, andam muito agitados e descontentes com a presente situação política (que para ela, aliás, tanto contribuíram com o famigerado 25A74). Até já se ouvem veladas ameaças de a tropa sair dos quartéis p’rá rua. Será que essa “rapaziada” têm em mente um novo 25 de Abril Sempre? Olhem, senhores militares, que do 25 de Abril Sempre, o tal da aliança POVO-MFA, já estamos todos fartos. Seja do antigo ou de um outro qualquer mais “modernaço” e que andem para aí a cogitar. Ou será que tudo não passa de um pretexto para andarem a brincar nas ruas com os novos tanques de guerra “Leopardo”, recentemente adquiridos?

[ii] Que sempre me habituei a considerar como o nosso último bardo do Império (que um dia tivemos).

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