Há uma importante questão a considerar: como a obediência a ideias regula determinadas práticas e como essas práticas conduzem à afirmação ou inflexão de algumas ideias. A ligação entre pensamento e acção não é alheia a isto.
Nas actuais circunstâncias políticas portuguesas, não se nos afigura necessariamente de reprovar que a Direita constitua uma formação classificável como partido. Nem sequer achamos que concorrer às eleições seja, em todas as alturas, algo de forçosamente reprovável.
O problema consiste no espírito que preside aos actos, consiste em estabelecer firmemente os princípios que devem nortear todo o procedimento, consiste em respeitar uma coerência que dá a verdadeira força às atitudes.
Quando se começa a perder o senso das proporções, dos valores, da sua ordenação e da sua hierarquia, quando os meios começam, mais ou menos subtilmente, mais ou menos inconscientemente, a invadir o lugar dos fins ou a adulterá-los, todo o edifício fica abalado.
Os que deste modo se comportam, obcecados pela eficiência, esvaziam-se da eficácia.
A pretensão de conquistar um espaço eleitoral, de obter uma fatia na Assembleia da República, de entrar para um escaninho do sistema, de se instalar respeitavelmente na democracia, faz, às vezes, as pessoas atropelarem-se a si mesmas, buscando trunfos viciados e acolhendo ou proclamando coisas que lhes parecem mais toleráveis pelos factos e pela mentalidade instalados e mais rentáveis, de imediato, junto da opinião pública. Desaustinados pela conquista dos meios, atabalhoam-se nas contradições, nas concessões e nas adaptações, amarrados à idolatria dum “realismo” que se tem revelado e revelará, afinal, ilusório e pouco ou nada produtivo.
O grave do problema está, pois, nisto: aonde levam esses pragmatismos, estes equívocos, deslocamentos, indeterminações? Ao fracasso, em todas as esferas. Pode dizer-se que “nem honra nem proveito”.
Foi até frequente depararmos com o triste espectáculo do “fugir de Cila para cair em Caríbdis”. Para recusar o colectivismo socialista, defendeu-se o liberalismo económico.
Se pensássemos em ganhar menos, talvez se viesse a ganhar mais. De qualquer modo, não se perderia com mais extensão do que se perde; mesmo no terreno tão vorazmente cobiçado…
Goutart Nogueira
domingo, 19 de outubro de 2008
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